Como setor de cartões antecipou a proibição do uso de crédito em sites de apostas online

Como setor de cartões antecipou a proibição do uso de crédito em sites de apostas online

A decisão foi anunciada na última terça-feira (1º) e entra em vigor imediatamente.

O setor de cartões decidiu proibir o uso do cartão de crédito para pagamentos de apostas e jogos online antes da regulamentação do governo. A proposta do Ministério da Fazenda prevê essa proibição, que só entrará em vigor em janeiro de 2025.

Conforme noticiou o Época Negócios, a decisão de proibir o uso do cartão de crédito para apostas foi tomada em uma reunião extraordinária da diretoria da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) nesta terça-feira, com vigência imediata. A Abecs conta com grandes bandeiras como Visa, Mastercard e Elo entre seus associados.

“A decisão da Abecs baseia-se na crescente preocupação do setor de cartões em torno da prevenção ao superendividamento da população e do crescimento das apostas online no País, que, entre outras consequências, pode gerar impactos significativos no endividamento e no consumo relacionado ao varejo e ao setor de serviços”, disse a associação, em nota.

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De acordo com a Abecs, a decisão foi adotada mesmo com a constatação de que o uso do cartão de crédito para apostas online é “insignificante”, conforme as avaliações feitas pelas principais bandeiras de cartões no Brasil.

A associação destacou a importância de discutir a proibição do uso de outras opções de financiamento para apostas.

“Como se sabe, o Pix é hoje o maior responsável pelos lances realizados em jogos online, tendo se mostrado um meio de acesso a linhas de crédito, como o cheque especial, e, por consequência, um importante vetor de endividamento”, destacou.

Presidente da Febraban pediu proibição urgente do uso de cartões de crédito

Em setembro, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que era necessário proibir imediatamente o uso de cartões de crédito em apostas e jogos online. Em declaração concedida ao Estadão, Siddney revelou estar preocupado com os enormes gastos que as pessoas podem estar acumulando em sites de apostas.

“Eu particularmente entendo – é uma posição pessoal – que o governo deveria usar todos os meios legais para proibir, imediatamente, o uso do cartão de crédito para a realização dos jogos. A proibição feita ainda não está sendo observada. O cartão é um produto fundamental e seu uso para apostas vai afetar bastante o consumo das famílias e a economia”, destacou.

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Desde abril, uma portaria do Ministério da Fazenda proíbe o uso de cartões de crédito em apostas, mas a regra só entrará em vigor em janeiro de 2025. Segundo o Estadão, os gastos com jogos de azar preocupam o Banco Central. Isaac Sidney alerta que o crescimento desses jogos está atingindo proporções “alarmantes e gigantescas”, podendo resultar em uma “tragédia anunciada”.

“O crescimento do mercado de apostas online no Brasil vem assumindo proporções alarmantes e gigantescas e esse cenário deveria nos preocupar seriamente, em especial quanto a seu efeito nefasto no endividamento das famílias”, diz Isaac Sidney. “Sem controle, não tenho dúvida, a escalada da dívida vai se tornar numa tragédia anunciada, com consequências graves para a saúde financeira das pessoas”, alerta.

Empresas de apostas membros do IBJR banem por conta própria cartões de crédito

Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), entidade que reúne operadores do setor de iGaming no Brasil, publicou uma nota, no dia 26 de setembro, afirmando que as plataformas afiliadas tomaram a decisão voluntária de banir o uso de cartões de crédito como forma de pagamento.

“Embora essa modalidade represente apenas cerca de 0,5% dos depósitos realizados pelos clientes, a medida visa mitigar riscos financeiros e reforçar uma experiência mais responsável e protegida para os usuários”, declarou o IBJR.

A instituição explicou que a medida foi tomada após diálogo com o Ministério da Fazenda. O governo tem estudado a possibilidade de implantar um sistema para bloquear apostas online com cartão de crédito. A interrupção dessa forma de pagamento já iria acontecer a partir de 1º de janeiro, mas entidades bancárias e do varejo pediram para antecipar o fim da autorização de uso de cartões.

Segundo o IBJR, os afiliados representam aproximadamente 70% do mercado de apostas no Brasil. “Todos os membros já submeteram formalmente seus pedidos de licenciamento, demonstrando total alinhamento com as exigências legais e o firme propósito de operar dentro de um ambiente devidamente regulamentado“, contou a entidade na nota.

O Instituto aproveitou para formalizar solicitações de reuniões com órgãos governamentais como os ministérios do Desenvolvimento Indústria e Comércio, da Saúde e do Desenvolvimento Social. A organização pretende também debater com o Banco Central. A intenção, segundo o IBJR, seria “discutir medidas eficazes para mitigar os possíveis efeitos adversos da atividade de jogos e apostas no Brasil, além de esclarecer aspectos e dados importantes para melhor compreensão do nosso mercado”.

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Apostas esportivas Brasil Indústria de jogos Regulamentação do jogo