Entenda como a regulamentação das bets reduz déficit nas contas externas, segundo o Banco Central

Com a regulamentação do setor, menos dinheiro foi enviado ao exterior.
O mercado brasileiro de apostas esportivas começou a operar de forma regulamentada em 1º janeiro deste ano e uma das normas para poder atuar no país é a de que as empresas estrangeiras são obrigadas a ter um representação no Brasil. Na visão do Banco Central (BC), a aplicação dessa regra ajuda a reduzir o déficit nas contas externas de serviços culturais, pessoais e recreativos.
Em entrevista ao Valor, o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que havia um fluxo de dinheiro indo para fora do país com as apostas realizadas. Agora a situação mudou já que o dinheiro circula no país. Outra mudança foi que as taxações cobradas das empresas de apostas estão dentro da conta de serviços culturais, pessoais e recreativos.
“A diferença que aconteceu agora é que teve uma regulamentação do governo brasileiro que entrou em vigor em janeiro, e entre outros aspectos, o que importa neste caso, é que a regulamentação definia que deveria haver uma empresa residente, representante das bets internacionais, subsidiária, algo assim, residente no país. Como essa empresa é residente no país, ela recebe esses fluxos de apostas, então houve uma redução muito grande naquele fluxo”, afirmou Rocha.
Segundo dados do Banco Central, o déficit de serviços culturais, pessoais e recreativos diminuiu de R$ 2,3 bilhões (USD 397 mi), em janeiro de 2024, para R$ 760 milhões (USD 132 mi), em janeiro de 2025.
“O montante de apostas pode continuar exatamente o mesmo, mas os fluxos com o exterior se reduziram, porque, ao invés desse conjunto de apostas ser enviado para a matriz no exterior e essa matriz verificar o pagamento e mandar de volta uma parte do recurso para o Brasil, essas transações passaram a ser transações domésticas e não são mais captadas no balanço de pagamentos”, complementou Rocha.
O chefe do departamento de estatísticas do BC comentou ainda que a regulamentação da indústria de apostas modificou também os números do setor externo na renda secundária. Houve uma redução nas transferências para o exterior de R$ 5,75 bilhões (USD 1 bi), em janeiro de 2024, para R$ 2,48 bilhões (USD 431 mi), em janeiro de 2025.
“Basicamente nesse caso das apostas, as despesas são recursos indo ao exterior, o valor bruto das apostas descontado do serviço, e as receitas são quando os recursos voltam ao Brasil destinados a pagar as apostas”, concluiu Fernando Rocha.
Veja também: Crescimento das bets: empresas de apostas já movimentam quase 1% do PIB do Brasil